A festa nacional de 14 de julho, mais importante data cívica da França, este ano terá comemorações discretas, em resposta ao momento muito particular que vivemos.
A necessidade de distanciamento social transformou radicalmente a forma de celebrarmos até mesmo um simples aniversário. O que dizer então de uma festa nacional que normalmente era marcada por grandes concentrações de público para apreciar shows aéreos, concertos ao ar livre e queima de fogos.
Com a retomada das atividades na França caminhando criteriosamente, as autoridades sanitárias ainda recomendam cautela, e o lema para as comemorações da festa nacional este ano é “14 juillet 2020, une nation engagée, unie et solidaire” (14 de julho de 2020, uma nação engajada, unida de solidária), um apelo à manutenção do espírito vigilante em relação à contenção da Covid-19.
Essa nova realidade sanitária fez com que este ano os franceses comemorassem de modo menos efusivo o 14 de julho, também conhecido como data da Queda da Bastilha, mas que celebra na verdade a união da nação francesa, como bem explica o jornalista Olivier Tosseri neste texto bem curtinho aqui ou o próprio site da Presidência da República (Elysée).
Passado o pior momento da pandemia, ainda há risco de uma segunda onda de contaminação em decorrência da exaustão provocada pelo cumprimento de regras (a chamada compliance fatigue do mundo corporativo), que acaba fazendo com que as pessoas abandonem antes da hora os cuidados necessários para evitar o contágio.
Este risco de relaxamento fez com que municípios optassem por cancelar as celebrações em locais públicos por temerem aglomerações como a que aconteceu recentemente em Nice, no show do DJ The Avener, no último dia 11, em que milhares de pessoas se juntaram sem cuidados mínimos de distanciamento e sem o uso de máscaras, que até então era recomendado, mas não obrigatório em locais públicos.
Na agenda cultural da Provence, por exemplo, uma busca rápida sobre a maior festa nacional resulta em recorrentes resultados com as palavras “Événement annulé” (evento cancelado) em diversos municípios da região.
Seguindo a receita de evitar riscos desnecessários, também foi cancelado o tradicional desfile militar na Avenue des Champs Elysées, em Paris. Porém, uma cerimônia na Place de la Concorde vai homenagear os profissionais de saúde, tanto militares quanto civis, pelo seu desempenho no cuidado com os enfermos e no combate à disseminação da pandemia. O público, porém, será limitado a duas mil pessoas, incluindo cerca de 1.400 profissionais de saúde. Já o tradicional show aéreo reunirá 52 aviões e 18 helicópteros, bem menos do que o mostrado no evento de 2019, que contou com 67 aviões e 40 helicópteros.
L’année De Gaulle
As forças armadas da França farão também uma homenagem ao general Charles de Gaule, herói da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e fundador da 5a República Francesa. Em razão do triplo aniversário desta personalidade histórica, 2020 foi declarado “L’année De Gaulle” (o ano De Gaulle), em que se comemoram 130 anos de seu nascimento, 50 anos de sua morte e 80 anos do seu primeiro discurso, em que o general alertou sobre o risco da mundialização da Segunda Guerra.
Os fogos de artifício, igualmente esperados, serão lançados da Torre Eiffel no final da tarde, mas o público será mantido à distância. Para isso, a restrição de circulação terá início logo pela manhã, tornando-se mais rigorosa até as 19 horas, quando já estarão interditadas vias de acesso como Trocadéro e uma extensa área que vai da Ponte de Grenelle-Cadets-de-Saumur até a Ponte de l’Alma. Estações de metrô também serão fechadas.
Já o Concerto de Paris, pela Radio France, será realizado sem público, no Campo de Marte, e transmitido a partir das 20h30 (horário local) pelo site France Inter e pela União Europeia de Rádio e TV a oito países. O canal Film and Arts o exibe ao vivo a partir das 16h00.
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