O fim do isolamento social, com a retomada gradual das atividades que foram interrompidas para conter a propagação da Covid-19 começou a acontecer ontem na França, e alguns dos acontecimentos por lá poderão inspirar atitudes do lado de cá do Atlântico.
A exemplo do que ocorreu em muitos países, Brasil incluso, a França adotou o isolamento horizontal e chegou a lançar mão do confinamento (lockdown) como forma de frear a propagação da Covid-19, doença contagiosa causada polo novo coronavírus. Desde 17 de março, comércio, escolas, bares, museus, restaurantes e muitos outros estabelecimentos tiveram suas atividades interrompidas e as pessoas foram proibidas de circular livremente, o que ocasionou tanta polêmica quanto temos vivenciado por aqui.

Guardadas as devidas proporções (e são muitas), a França passou pelo que hoje estamos passando: discordância de autoridades em relação à forma de lidar com a pandemia, uma avalanche de superinformação e desinformação simultâneas, ainda que sem as tintas fortes e os requintes próximos da crueldade que os contrastes sociais da realidade brasileira revelam.
Nas últimas semanas, l’Hexagone viveu de tudo, inclusive viu despontar o protagonismo do seu “doutor Cloroquina”, o médico infectologista Didier Raoult, que defende o uso da hodroxicloroquina no tratamento da Covid-19. Nascido no Senegal, o pesquisador e especialista em doenças infecto-contagiosas tropicais da Faculdade de Ciências Médicas e Paramédicas de Marselha recebeu inclusive a visita do presidente Emanuel Macron, com popularidade em alta durante a pandemia.
Temeroso dos danos econômicos que um longo período de inatividade pode causar, o presidente instituiu o déconfinement (ou desconfinamento, em tradução literal), muito embora ele não seja unanimidade. Sindicatos de professores e representantes do setor de transportes julgaram a decisão muito precoce, havendo até mesmo uma dissonância entre as posições de Macron e de seu primeiro-ministro Édouard Philippe com relação à estratégia de enfrentamento da crise.
Em clima de poucas convicções, mas diante da necessidade de recomeçar, o país reinicia gradualmente as suas atividades, a começar pelas escolas e pelos transportes públicos, para posteriormente proceder à reabertura do comércio. Munidos de máscaras e álcool, enfrentando o medo da contaminação nos transportes públicos e a possibilidade de uma segunda onda de contaminação, os franceses saíram às ruas enfrentando algumas dificuldades como manter o distanciamento social no metrô, por exemplo. Mas temendo igualmente pela situação econômico-financeira, seguem em frente tentando recobrar algo que se pareça com a vida como ela era antes da pandemia.
Deslocamentos feitos de carro serão monitorados como vinham sendo, estabelecendo-se um limite de 100 quilômetros em linha reta, até que as autoridades considerem ser possível estender essa distância em função da evolução dos números da pandemia, visto que não há receita pronta para sair da crise. Ninguém a tem.
E um pouco de rebeldia também não poderia faltar nessa retomada das atividades: em Paris, nas proximidades do canal Saint-Martin, pessoas se aglomeraram para comemorar o fim da quarentena de forma pouco cautelosa: sem o uso de máscaras e sem o chamado distanciamento social, e precisaram ser dispersadas por força policial, como mostrou um vídeo disponível na página do Le Parisien.
Antes disso, enquanto ainda aguardavam o retorno à nova normalidade, os franceses foram agraciados com uma bela homenagem à sua capital: o vídeo “París Confiné 2020”, que mostra uma Paris vazia, em pleno bloqueio total (lockdown), ressaltando também a solidariedade e o trabalho essencial daqueles que, como aqui, mantiveram a cidade funcionando para que a grande maioria pudesse se isolar e se proteger do contágio.
Assinada pela Skydrone Film, empresa de filmagens aéreas por drone e pela agência Futuria, a produção encanta e faz refletir, intercalando lindas tomadas aéreas da cidade com imagens de entregadores, bombeiros e da população aplaudindo o trabalho dos profissionais de saúde. Ao final, uma frase em latim evoca a natureza da cidade-luz, que já foi cenário de tantos períodos difíceis ao longo de sua história: “Fluctuat nec Mergitur”, algo como “abalada pelas ondas, mas sem ainda flutuando”.
De alguma forma, não só Paris, mas a Humanidade, sairá dessa crise.
Fontes:
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http://www.francesmais.com