Interessados em cultura francesa descobriram em 2020 uma série que mostra uma visão divertida do choque cultural entre americanos e franceses.
Quem começa a assistir “Emily em Paris” (Netflix) se encanta. Esteticamente atraente e com um roteiro ágil, a série vai exacerbando aos poucos o que, na visão de seus criadores, é um choque entre as culturas norte-americana e francesa. O meio para isso é uma história baseada nas agruras e delícias de Emily Cooper, uma jovem profissional de marketing que é transferida a trabalho de Chicago para Paris. Pouco preparada para essa guinada na carreira, ela chega à capital francesa sem falar o idioma e ainda com a tarefa hercúlea de levar a estratégia norte-americana de marketing para o escritório parisiense.
O curioso, no meu caso, é o paralelo entre duas cidades que, por força de circunstâncias profissionais, conheço e amo. Chicago é sim, imponente e talvez isso se traduza em certa prepotência na personalidade de seus cidadãos. E Paris é sim, um lugar em que tudo acontece, onde já se viu de tudo e, por consequência, tende a ser constante em seus habitantes a sensação de enfado e tolerância zero.
Porém, antes de formar opinião a respeito da série aos primeiros capítulos, é interessante notar que o problema não são americanos ou franceses, o problema é o “em geral”. Generalizações empobrecem qualquer raciocínio. E por isso recomendo que, ao saborear o seriado, você se permita deixar de lado o espírito crítico para poder apreciar a construção minuciosa de personagens propositalmente estereotipados. No meu entender, a finalidade primeira dessa construção é nos divertir. Foi assim que Emily em Paris suavizou alguns dos meus difíceis dias de pandemia.
A suposta ingenuidade de Emily ao se jogar em um posto profissional sem saber um mínimo para se comunicar, é sim, uma atitude arrogante. Por outro lado, não é nada educada a forma com que seus novos colegas de trabalho a hostilizam, zombam da sua figura e resistem a integrá-la à equipe.
Talvez a série exponha algo que se acirrou com os tempos de pandemia regados a nacionalismo e recrudescimento da xenofobia: a intolerância ao diferente. Pra mim, o recado claro foi a falta que faz a empatia nesses nossos dias regados a medo, dúvida e desinformação. Tudo o que está no seriado é verdade, embora com certa dose de exagero. E se você quiser uma análise mais profunda sobre por que virou clichê nas redes sociais descer a lenha no seriado, leia este artigo do jornal El País.
Mas, se preferir apenas se divertir com os clichês e com as interpretações divertidas de atores como Philippine Leroy-Beaulieu que, por sinal, ama o Brasil, e que encarna a chefe insuportável de Emily. Aprecie também as fofices de Emily, vivida pela britânica Lily Collins que, apenas a título de curiosidade, é filha do músico Phil Collins. Simplesmente se jogue e aproveite com leveza o multiculturalismo presente na obra e que é tão valorizado pelos franceses. Na minha humilde opinião, estamos precisando disso.
E que bom que vem aí uma segunda temporada, agora mostrando os perrengues da pandemia. Veja aqui o anúncio:
Mal posso esperar!