Mais de 75 milhões de maços de muguet são vendidos a cada ano no 1º de maio na França. A flor, que prenuncia a chegada do verão, tornou-se também um símbolo dos votos de felicidade no dia do trabalho.
Muito provavelmente você recebeu nos últimos anos posts de WhatsApp com a foto de uma florzinha pequenina, branquinha, acompanhada de bons votos para o Dia do Trabalho. Essa tradição nasceu na França e tem-se espalhado por aqui como uma expressão do desejo de que a pessoa presenteada tenha boa sorte. Nada mais oportuno nesses tempos difíceis que estamos vivendo.
Este é uma daqueles hábitos que passamos a repetir sem saber por quê. Já recebi, inclusive, posts de muguets em outras épocas que não o 1º de maio, e a título de qualquer outro motivo. Portanto, vamos à sua origem para poder conhecer mais sobre o real sentido dessa manifestação?
O simbolismo do muguet teria origem entre os celtas, que celebravam o início do verão dançando para espantar maus espíritos e usando a flor como um amuleto para trazer boa sorte. Mas os registros históricos apontam que foi durante a Renascença que o rei Carlos IX iniciou a tradição de ofertá-lo. Em 1560, ao visitar Drôme (hoje um departamento da região Auvergne Rhône Alpes) com sua mãe, Catarina de Médicis, ele teria ganho um muguet do cavaleiro Louis de Girard de Maisonforte, colhido no seu jardim. Encantado com o gesto, o rei decidiu, no ano seguinte, ofertar a flor às damas de sua corte, dando início à tradição que a tornaria um amuleto que traz boa sorte.
Bem mais adiante, um outro fato que se tornou público veio reforçar a tradição: em 1º de maio de 1895, o cantor francês Félix Mayol, nascido em Toulon, chegava a Paris e teria recebido de sua amiga Jenny Cook um buquê de muguets, colocando uma flor na sua lapela ao se aprontar para o seu primeiro show na capital francesa. Devido ao sucesso de sua série de apresentações, Mayol adotou o muguet como seu emblema e, por ser bastante popular então, acabou reforçando e relançando a tradição.
Mas qual a relação entre o muguet e o Dia do Trabalho?
Em 1889, a segunda Internacional Socialista, realizada em Paris, decidiu convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pela jornada de oito horas de trabalho. A data escolhida foi o primeiro dia de maio, como homenagem às duras lutas sindicais que vinham ocorrendo em Chicago (EUA) desde 1884. A data foi escolhida por ser o dia em que muitas empresas iniciavam seu ano contábil, com a renovação de contratos de trabalho.
Nas manifestações de 1890, os trabalhadores ostentavam um triângulo vermelho no peito, simbolizando a demanda pelos “três oitos” que hoje fazem parte da nossa realidade trabalhista: oito horas de trabalho, oito de sono e oito de lazer. Uma rosa selvagem vermelha, abundante no norte da França, rapidamente substituiu o triângulo entre os trabalhadores, como símbolo desta luta. Ela passou então a ser chamada de “flor socialista”, e recebeu mais tarde a denominação de églantine, em homenagem a Fabre d’Églantine, dramaturgo e poeta contemporâneo da Revolução Francesa.
O primeiro compêndio de leis relativas ao trabalho, o Côde de Travail, foi adotado na França em 1910, e seguiu evoluindo conforme as demandas sociais iam surgindo. Em1919, finalmente ele estabeleceu a jornada de oito horas de trabalho pela qual os trabalhadores lutaram por tantos anos, e consagrou o 1º de maio como Dia do Trabalho. O feriado foi oficializado em 1941, pelo marechal Pétain, que atuou como chefe de estado durante o Regime de Vichy. Atribui-se a ele a instituição do muguet como símbolo oficial da data, em substituição à eglantine, considerada um ícone associado aos movimentos de esquerda.
Em 1947, o feirado passou a ser um dia remunerado constante do Côde de Travail, sendo nomeado “Fete du travail” em 1948. Desde então o muguet permaneceu como símbolo da data, que passou alternativamente a ser chamada também de “festa do muguet”. C’est le temps du muguet!
Festa em confinamento
Este ano, com o distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19, os franceses não farão as tradicionais manifestações de rua, mas sindicatos e organizações estudantis se mobilizaram para promover manifestações online, assim como os chamados casserolades, o nosso popular “panelaço” para protestar contra o presidente Macron, cuja orientação liberal não tem agradado movimentos partidários mais à esquerda.
Manifestações virtuais também foram organizadas, inclusive no Manif.app, um aplicativo com geolocalização em que o usuário cria seu avatar e se manifesta.
Quer aprender francês pra saber ainda mais?
http://www.francesmais.com
Fontes: